Fotografia de Nascimento: Por mais afeto

A cada foto premiada e divulgada, a cada nova temporada, sempre há inúmeros comentários e tipos de reação, porém, a foto da Camila Mendes sofreu críticas sem embasamento e pouco construtivas.
Não aceitamos tal comportamento, bem como muitos membros de nosso grupo no Facebook também não aceitam.
E com todos que conversamos, a Luciana trouxe muita reflexão sobre tudo que lemos. Foi tão produtivo que virou matéria para nosso Blog.
Parabéns e obrigado Lu, por este texto tão lindo.
Agora com vocês Luciana Martins…

Fotografia de Nascimento: Por mais afeto

Fui convidada a falar sobre a polêmica que se criou em torno da imagem premiada na 2ª temporada do Outstanding Maternity Award, de autoria da colega fotógrafa Camila Mendes.

Todos devemos concordar que quando publicamos alguma imagem, esta é passível de toda e qualquer crítica. Porém, o que chamou a atenção foi essa determinada imagem ter gerado comentários e observações de outros profissionais tais como: “estranha”, “provocativa”, “esquisita”, “cenário inapropriado”, “exposição (luz) inadequada”, dentre outros.

Considero tais críticas de um vazio tão grande, que muito atormenta-me.

Fotografo nascimentos há 3 anos. Quisera eu ter produzido essa imagem.

Primeiramente, crítica sobre ângulo, luz, velocidade ou qualquer outra questão técnica, provavelmente vem de alguém que nunca fotografou parto. Pois, quem fotografa sabe como é e não cabe aqui eu falar sobre isso.

Segundo, preciso urgentemente avisar os desavisados que nascimento não tem cenário. A parturiente decide onde é mais confortável para ela, que tipo de luz ela tolera, que ambiente ela precisa para relaxar, quem ela quer por perto, assim como detalhes sobre aromas, velas, roupas, som ambiente, entre outros.

Sinto que está muito fácil criticar o trabalho do próximo sem base nenhuma de entendimento, conhecimento de causa, sensibilidade e empatia.

O nascer é momento único. O mais único de todos. Não temos como fazer nova tomada de absolutamente nada. É um momento que envolve muita emoção, possíveis adversidades, situações inesperadas, ausência de roteiro, ausência de cerimonialista, controle de iluminação… não temos controle de nada… É deixar a natureza agir por si só.

A mãe é a protagonista do seu parto e todos que a acompanham estão lá para assistência e apoio. Quando fotografamos cesárea, estamos num ambiente de total responsabilidade da equipe médica. Tudo o que fazemos ali deve estar em total acordo com a equipe de saúde que autoriza nossa entrada. É de grande importância saber por onde transitar, como agir, em quais momentos não devemos fotografar e nunca, de forma alguma, sobrepor o ego de querer “a foto” passando por cima de alguma regra. Na hora do nascimento o que interessa é o nascimento, o fotógrafo só irá captar o que for possível e seguro naquela situação. Então aqui coloco que não cabe criticar questões técnicas e luz justamente em virtude desse ambiente que nos aguarda.

Pensem comigo: Estamos numa época onde se fala tanto em feminismo, empoderamento da mulher… estamos vivendo este momento em que as mulheres estão se redescobrindo, percebendo sua real capacidade de gerar, parir e nutrir sua cria. Onde a valorização do feminino tem vindo de dentro para fora, partindo principalmente de muitas mulheres que relatam nascer de novo a partir do momento que vivem um parto.

Nesse contexto questiono porque motivo grupos de fotografia feminina são tão aplaudidos e possuem tanta audiência com fotos de nu (em todas suas categorias), porque passeatas com mulheres seminuas são aceitas (independente do motivo, pois, aqui não estou colocando tais questões em pauta), porque o corpo feminino é tão explorado pela mídia, novelas, seriados de tv… e isso tudo não perturba da mesma forma? Porém, a imagem da mulher parindo seu filho deveria ser mantida no HD porque é “muito ousada e perturbadora”.

Fotógrafo algum precisa ter “coragem” para divulgar tal imagem. Mãe nenhuma precisaria superar tabus para enfrentar o mundo com tal imagem. Isso é vida, é verdade, é realidade. Não está sendo transgressor, agressivo, invasivo. Não é criminoso, não é ofensivo. Precisamos guardar o pudor e a vergonha para outras coisas. Precisamos rever nossos valores, nossos pesos e medidas.

A fotografia de nascimento entrou na minha vida com muita força, pois, desejei muito fazer isso. Defendo e protejo esse trabalho. Creio que é o momento mais sagrado da vida de um ser humano. Mais sagrado que qualquer outro. É o começo de tudo, de todos nós. Convido todos a olharem e admirarem o assunto com doces olhos. Convido a aplaudirem os profissionais que se dedicam a isso, pois além de precisar confiar muito no próprio gatilho, precisamos estar altamente focados e equilibrados para encarar tais momentos, que além de tudo envolvem altíssima carga emotiva.

A mensagem que quero deixar é de valorização, sensibilidade e afeto. Que mais e mais mães possam viver esse momento com segurança, prazer e conforto e que mais e mais fotos incríveis virem arquivo de novas vidas, que contem como tudo começou…

---

Você curtiu essa matéria? Quer ser um colaborador também? Escreva para outstandingawards@gmail.com com o título “Blog Outstanding” para saber como e quando enviar seu artigo.

Tags:

• Blog Outstanding,
• Camila Mendes,
• fotografia de família,
• fotografia de nascimento,
• fotografia de parto,
• Luciana Martins,
• Outstanding Maternity Award,
• por mais afeto